Domingo, 7 de dezembro de 2008, teve e sempre terá um significado sublime para mim: foi o dia em que decolei, voei e pousei exclusivamente através de meus próprios atos e decisões; o dia do meu vôo solo de planador.
Eu já estava na nacele quando o instrutor (Paolo) disse: “neste vôo você não pode errar nada. Eu quero que você mantenha-se de 100 km/h para cima” A frase me desanimou um pouco porque entendi que aquele não seria meu vôo solo, mas o duplo onde ele avaliaria, definitivamente, se eu estava apto ou não para o vôo solo. Mas o que eu não percebi foi que, enquanto dava outras instruções, ele foi saindo de fininho do assento traseiro. “Eu vou sozinho? Vai!” E foi aí que o coração gelou. Será que eu de fato estava pronto? Não era melhor mais um ou dois vôozinhos duplos, pensei, tentando adiar o meu objetivo (que naquele momento causava certa apreensão).
Encarei o fato de que aquela era A hora e procurei relaxar, sem muito sucesso. Curiosamente, acabei acalmando durante a espera para a decolagem, que demorou um pouco devido ao intenso tráfego naquele momento. A rolagem começou precisamente às 11h… agora não tinha mais volta. Durante o reboque fui conversando comigo, convencendo-me de que a única lição que precisava aprender naquele momento era a de que eu era capaz. Eu só precisava conquistar a auto-confiança, e isto já estava em curso. A turbulência abaixo dos 600 metros já era considerável, mas nada diferente daquilo que já havia enfrentado antes. Aliás, esta foi outra sensação curiosa; paradoxal até: embora o vôo fosse solo, eu estava indiferente quanto a isso (pois estava apenas repetindo o que já fazia há muito tempo, com o instrutor).
Desliguei a 900 metros e após descer uns 100 metros (a 100 km/h) percebi uma térmica, na face norte da serra do Japi, golpeando a asa esquerda. E fui para cima dela, já impondo para mim mesmo um desafio: vou me manter em vôo por 30 minutos, o tempo máximo permitido naquele horário. Eu tinha térmica para isso e estava alto… não havia porque não tentar. Tive apenas de desobedecer um pouco o Paolo (só um pouquinho), reduzindo a velocidade para 90 km/h (não fui abaixo disso, viu Paolo) e ficar atento ao vento sudeste, que me afastava do aeródromo. Mas como antes, nada que eu já não havia feito.
Se decolar e pousar tranqüilamente já seria um sucesso, manter-me no ar por 30 minutos seria a glória. Por isso decidi não aventurar-me com outros feitos; aquilo estava bom. Mantive-me entre 800 e 850 metros (não podia passar de 900 metros) até o 22º minuto de vôo, quando decidi retornar para não passar dos 30 minutos (neste momento já cogitava a possibilidade de planejar precisamente o TEMPO do vôo: 30 minutos cravados).
Saí da térmica a 800 metros de altura e cheguei na curva de espera, ligeiramente a oeste do ponto médio da pista, a 700 m. Como o circuito fica 400 metros abaixo disso, havia bastante tempo para acompanhar a fonia e planejar o pouso, visando não atrapalhar nenhuma aeronave que já estivesse no circuito (embora planadores tenham prioridade de pouso, procuramos não impor arremetidas desnecessariamente).
Identificada a minha brecha, entre duas aeronaves no circuito, chamei a TWR: “torre Jundiaí, o planador PT-PPC está em curva de espera e estima mais um minuto para o ingresso no circuito”. Ao que ela pediu que informasse quando estivesse na perna do vento. Então, abri os spoilers e rapidamente fui dos 500 para os 300 metros: “Planador PT-PPC na perna do vento da 18, visual com a aeronave decolando. Aluno solo.” (nas entrelinhas, “aluno solo” significa “saiam da frente”).
Eu deveria ter chamado a torre na perna-base, mas justamente na hora em que ia fazer isso, a fonia ficou congestionada. Depois fiquei tão entretido em acertar o pouso que acabei esquecendo. Foi meu único erro, acho.
Cheguei na cabeceira com velocidade e atitude corretas, arredondei e fiz um toque suave. Foi só naquele momento que realmente senti como o planador estava leve, pois ele queria voar de novo! O pouso ocorreu às 11h31, isto é, meu vôo durou 31 minutos! Depois, foi só “correr para o abraço”!